Quando sentimos que falhámos...
Já percebi, não sabendo se isso é bom ou mau, que devo ter algum problema com seres vivos mais frágeis e que precisem de ajuda, tanto humanos, como animais.
No que respeita aos animais, se vir que eles estão bem, fico feliz e não me preocupo. Mas, se sei que algum precisa de cuidados, atenção, alguma coisa, as minhas antenas disparam. É automático.
Foi assim com a Amora. É assim com a Boneca. E foi assim com a Germana, a quem a Anabela começou a apelidar, por eu lhe ter dito que era um floco de neve, Flockita.
Dos 4, embora o Rafael seja o mais dado e brincalhão, e a Joana e o Jorge gatos lindos, foi na Flockita que o meu coração se fixou. Porque era a mais pequenina, a que mais cuidados precisava, a que eu poderia, de alguma forma, ajudar.
Chegámos a ponderar levar a Flockita ao veterinário e pagar a despesa a meias, mas ela começou a melhorar. E, provavelmente, o dono não o iria permitir. Muito já fazia a Anabela, mesmo com algumas reclamações pelo meio, a levar-lhe a comida, o leite, desparasitar, limpar os olhinhos.
Cheguei, inclusive, a dizer à Anabela que a minha vontade era ir buscá-la e ficar com ela. Queria mesmo o melhor para a Flockita. Mas o dono, quando apareceu uma pessoa que queria ficar com a gata, disse que não dava. Portanto, também não ma daria, por certo.
E, mesmo que desse, o que poderia eu fazer? Tinha que a manter em quarentena, afastada da Becas e da Amora, até saber que estava tudo bem com ela e não havia perigo para as nossas. Isso implicava, de novo, todo o processo de consultas veterinárias, vacinas, esterilização, medicamentos, se fosse o caso, custos que eu não sei se poderia suportar.
Assim, e porque a Anabela mostrou que a Flockita estava a melhorar, fiquei contente e mais descansada. Sabia que a Anabela ia fazer o que pudesse para ela ficar bem.
Quando a Anabela que contou que a Flockita tinha morrido, fiquei em choque. E muito frustrada. Sinto que, de alguma forma, falhei. Os "se" começaram logo a surgir: "se eu tivesse ido buscá-la", "se tivesse ido para outra família", "se a tivésemos levado ao veterinário"...
Afinal, de que serve apregoar aos quatro ventos que gosto dos animais e os ajudo, se nem esta pequenita, que dava todos os sinais de precisar de ajuda, consegui ajudar.
E se eu me sinto assim, sem nunca ter lidado de perto com ela, nem imagino a Anabela, que estava lá com a Flockita quase todos os dias.
Sim, questionamo-nos, se teria sido diferente, se alguma de nós a tivesse acolhido. Poderia estar viva hoje, pois poderia. Mas poderia ter partido da mesma maneira, se o que a levou foi alguma doença que tinha. E, aí, como nos sentiríamos, sabendo que a tínhamos acolhido para morrer connosco? O que pensaria o dono?
Apesar disso, a única coisa que penso é que devia ter seguido o meu instinto, que falhei ao desprezá-lo, mesmo sabendo que irão aparecer muitas "Flockitas" na minha vida, e não conseguirei ajudar a todas...
Agora, ficará aos cuidados dos seus amigos felinos que, como ela, já partiram. Estou muito triste...