Kikas - Chorar a morte de um gato que não é nosso
Se há dias estava feliz com o nascimento dos pequenitos da Bela, na colónia, hoje é um dia triste, em que tive a confirmação daquilo que já suspeitava: a partida da Kikas deste mundo.
Há semanas que não a via e, embora uma ténue esperança me fizesse crer que a poderiam ter dado a alguém ou, simplesmente, tinham decidido mantê-la em casa, algo me dizia que isso era pouco provável.
Hoje vi o meu vizinho, e perguntei-lhe.
"A Kikas já se foi...Agora temos outro, vamos ver como é que corre."
Nem ouvi bem o resto. Parece-me que foi a filha de um vizinho, dono do Branquinho, que a viu e lhes disse.
A Kikas não era nossa mas, o que estou a sentir neste momento, é muito parecido com o que senti quando a Tica morreu.
Se alguém duvida que possamos chorar a morte de um gato que não é nosso, acreditem que é possível, sim!
Já me tinha sentido triste com a morte da Flockita, ou da Nala, que nunca tinha visto.
Hoje, choro a morte da Kikas, a "nossa" menina das pantufas brancas, voz única, e personalidade tão especial, que todos os dias ia à nossa porta, num apelo não só por comida, mas também por ajuda que, infelizmente, nunca pudemos dar.
Tantas vezes pensámos em ficar com ela, em tirá-la da rua. Mas não era nossa. Tinha donos. Tantas vezes a fomos entregar aos donos, para que a colocassem em casa. Mas eles deixavam-na ir à rua novamente.
Tantas vezes ela miava à nossa porta, mesmo de madrugada. Tantas vezes a vimos à chuva, toda molhada, a querer um abrigo.
Aliás, essa foi a última vez em que a vi...
Tantas vezes andava com o Branquinho ali pelo quintal, ora a namorar, ora à patada um ao outro.
Nada disso voltará a acontecer...
O Branquinho ficou sem a namorada. Anda triste e melancólico. Em risco de seguir o mesmo caminho. Mas tem donos...e não podemos fazer nada.
Nós, ficámos sem uma amiga.
Lembro-me da primeira vez que a vi, ainda no quintal dos vizinhos, empoleirada no muro. E da vez em que ralhei com uns miúdos que lhe queriam bater com um pau. Ou das vezes em que ela se punha à porta,a defender o seu prato de ração, para mais ninguém lhe tocar!
A Kikas era extremamente ágil, uma macaquita, mas de andar silencioso e elegante. Era uma lady, que fazia os machos esperar que ela se servisse. Uma gata simpática e meiga, que só queria mimos, como os que lhe dei no outro dia. E agradecida! Como daquela vez em que apanhou uma lagartixa, e insistiu em colocá-la aos meus pés!
São momentos que guardaremos para sempre, que não se esquecem, e que marcam quem gosta dos animais. E é por isso que, quando partem, mesmo não sendo nossos, sentimos e choramos como se fossem. Porque, no fundo, são um bocadinho de todos os que partilharam, na sua vida, algum momento com eles.
Esta é uma homenagem para ti, Kikas! Continua a brilhar, onde quer que estejas!
E perdoa-nos por não termos feito mais por ti