A vida secreta do Freckles
Aqui fica o primeiro testemunho da vida secreta dos animais, enviado para o passatempo:
"São inúmeras as vezes que saio de casa e ponho-me a pensar como será a vida secreta do meu animal.
Por falar nisso, saí de casa por umas horas, regressei e ainda não vi o meu animal de estimação. Onde será que se meteu?
Será que me pressente subir as escadas e depois de um forrobodó enquanto estive fora, ele se escondeu a fazer que dormia?
Vou ver...
Está tranquilo no bem bom da sua cama, que é um cesto, mas não dorme.
O meu animal é inteligente, percebe quando faço a mala para viajar e sabe que outros vão cuidar dele. Não sai da minha beira.
E sabe quando saio por algumas horas e vem até à porta ver-me sair.
Digo-lhe: “ Até logo. Porta-te bem”
E é então que, quando bato a porta, imagino o que fará quando fica sozinho.
Às vezes penso nele melancólico e sonolento, a curtir a solidão, outras vezes imagino-o a saltar e a correr como se andasse nos quintais à procura de alimento: um pássaro, uma mosca, uma aranha.
Imagino-o a fazer escorrega nos tapetes dexiando-os tipo farrapo, como sempre faz, ou trepar os móveis que tanto gosta, subir ao topo do móvel mais alto que há cá em casa e que ralho com receio que possa cair e magoar uma pata, e vingar-se das minha reclamações como “ sai daí!”, “ tu cais!” e ele rir-se de mim quando viro costas.
E são estes momentos, sozinho, que ele levanta as patas da frente e dança como se a música da rádio que escuta, quando estou cá, o acompanhasse.
E ele deve imaginar-se a dançar comigo. Eu seguro-o pelas patas e dançámos como dois cúmplices da música que gostamos.
Mas é por breves momentos. O malandro depressa se enche das brincadeiras que eu “sugiro” fazermos.
E então, vinga-se de mim. Imagino-o a comentar para si: “ Pensas que eu não gozo, doida? Sais de casa , vais para o arejo nas ruas da cidade, é a minha vez de me divertir.”
E dança, e canta “miau, miau, miau, miau, miau” , talvez acordando a vizinhança, ou miando baixinho, porque é educado e não quer incomodar ninguém.
Uma coisa é certa. Quando chego a casa está tudo calmo, nada fora dos seus lugares.
E quando lhe apetece receber-me à porta na esperança de que vai ter um “doce” para comer, mal entro, está ele a coçar-se no móvel da entrada a disfarçar o forrobodó que teria feito na minha ausência.
E quando não vem receber-me, tenho de o chamar ou perguntar “ onde estás tu? Onde está o meu pet?”
Ele faz-se desentendido e espera que eu vá lá dar-lhe uns mimos."