Branquinho: onde andarás tu?
Como descrever o Branquinho?
O maior engatatão do bairro!
Não havia bichana que ele não tentasse engatar com o seu charme e meiguice. Ainda no fim de semana se arriscou a entrar na casa da vizinha, para cumprimentar a felina tartaruga que lá vive.
Mas as suas conquistas vêm de longe, e de há muitos anos.
E nem as nossas bichanas escaparam. A Amora sempre teve um fraquinho por ele, embora disfarçasse. Mas foi num dia em que ele entrou cá em casa que a Becas levou o seu primeiro beijo do galã. Aliás, era arrastava um patinha para a Becas, para desgosto da Amora.
No entanto, a sua maior paixão foi a Kikas, com quem ele estava sempre a brincar e a aventurar-se. Quando ela morreu, atropelada, ele ficou mal. Nem parecia o mesmo.
Mas a vida tem que ser levada para a frente e, por isso, acabou por ser pai dos filhotes da Esparguete, a miúda nova que tinha chegado ao bairro e, mais tarde, da Mia.
O gato mais meigo do bairro!
Podíamos pegar nele. Dar-lhe festas. Ele até se deitava de barriga para cima, e rebolava-se no chão, para as receber!
Simpático, giraço, meigo. Um gato que qualquer pessoa gostaria de ter em casa, mimar e proteger. Qualquer pessoa, excepto os seus donos...
O gato que mais se armava em valente e se metia em sarilhos!
O Branquinho era conhecido nos arredores por andar a meter-se com todos os outros machos, e andar à bulha com eles. Cheguei a separá-lo, muitas vezes, do gato da vizinha.
Volta e meia, aparecia ferido, com as marcas de guerra. Mas não baixava a guarda, nem retrocedia.
De Branquinho, por andar mais tempo na rua que em casa, já pouco tinha.
O gato mais gentlecat!
As ruas, as brigas, as condições em que vivia, podiam tê-lo tornado amargo, frio, insensível.
Mas não.
Apesar de tudo, mantinha-se igual, e uma das suas grandes qualidades era ser um cavalheiro das damas desprotegidas.
Não me esqueço da noite em que a nossa Becas ficou na rua e, quando dei por isso de manhã cedo, era o Branquinho que estava com ela, para que nada de mal lhe acontecesse.
O gato mais pesado em que já peguei!
Embora tivesse havido uma altura em que emagreceu, voltou a recuperar o peso e, sem estar gordo, de cada vez que pegava nele, normalmente para o tirar de casa, para onde tinha entrado à socapa, sentia que era mesmo pesado!
O gato que os donos nunca quiserem dar, mas que nunca souberam estimar.
Quantas vezes ao frio, à chuva, com fome e falta de mimos, ele tentou a sua sorte nas casas vizinhas. Mas tinha dono. Um dono que achava que os gatos deviam viver consoante os seus instintos, e em liberdade. Um dono que nunca ligou muito ao bem estar do gato, mas também sempre se recusou a dá-lo, a quem poderia tratá-lo melhor.
De um dia para o outro, o Branquinho desapareceu
Nunca mais ninguém o viu. Nunca mais se soube dele.
O dono, está demasiado descansado e despreocupado mas, ao mesmo tempo, com aquele sorriso nervoso, dando a entender que sabe o que aconteceu, ou que tem alguma coisa a ver com o que se passou.
Estou triste... E revoltada...
Uma pessoa acaba por se afeiçoar a eles e depois...
Tinha os meus afilhados na colónia, e morreram todos.
Tínhamos aqui a Kikas, e morreu.
Os filhotes da ET, desapareceram ou morreram.
E agora o Branquinho desapareceu.
Por vezes penso que devia ter um coração mais feito de pedra, de indiferença, de insensibilidade para com os animais, para depois não sentir tanto a sua perda.
Nunca te esqueceremos, Branquinho!