Tenho acompanhado a situação da Mia, uma das felinas da Fátima, e não poderia deixar de escrever este post.
Já vivi, na minha vida, duas experiências distintas, e nenhuma delas me preparou para aquela, que é a única coisa que todos os seres vivos têm, de mais certo, na vida: a morte.
Quando a Tica morreu, numa fracção de segundos, sem qualquer sinal de que isso poderia acontecer, uma das frases que mais ouvimos foi "Pelo menos não sofreu, não esteve dias e dias doente, a definhar mais a cada um deles, com vocês a assistirem, sem poderem fazer nada. Foi melhor assim."
Melhor, seria, como é óbvio, ela continuar entre nós. Mas, talvez tenha sido, de certa forma, menos penoso assim. Talvez...
Com a Fofinha foi diferente. Ela estava doente. Nós sabíamos que ela estava doente. E que, mais cedo ou mais tarde, partiria. Mas tínhamos sempre a esperança de que aquele tumor desaparecesse por magia, e ela voltasse ao normal. Nessa altura o meu pai ponderou a eutanásia. Não foi necessária. Ela acabou por morrer naturalmente.
Ah e tal "Foi melhor assim, pelo menos acabou-se o sofrimento para ela.".
É verdade, mas preferia que tivesse acabado com ela viva e bem de saúde.
Em ambos os casos, quis acreditar que tinham partido, para ceder o seu lugar a outros seres. No caso da Fofinha, à minha filha, que nasceu cerca de ano e meio depois. No caso da Tica, à adopção das duas meninas que hoje temos, e a toda uma missão em prol da defesa e protecção dos animais.
A Mia, a gatinha da Fátima, está numa situação diferente, e que não deixa de ser curiosa.
Embora não pareça sentir dores, desconforto, apatia, nem qualquer outro sintoma que leve a considerar que está em sofrimento, a verdade é que, como pouco se alimenta, tem vindo a emagrecer a cada dia, transformando-a em pouco mais que pelo e osso.
E é essa a única manifestação visível que apresenta. E os mimos e atenção que pede cada vez mais à Fátima!
Neste momento, a Mia está numa espécie de estabilização: não piora, mas também não melhora. O que torna ainda mais incerto o seu futuro.
Uma coisa é certa, ela parece estar a lutar, à sua maneira, para ficar o máximo de tempo que conseguir nesta vida. Como que a dizer que ainda não completou a sua missão. Que a sua presença ainda é necessária, e não está na sua hora.
Já para a Fátima e restante família, não deverá ser fácil. Sempre a desejar o melhor, mas a esperar o pior. A querer acreditar que tudo vai correr bem, mas sempre de pé atrás, não vá o destino pregar uma partida.
Como é que vive quem espera pela morte daqueles que ama?
Só tem três hipóteses.
Ou ignora, fazendo de conta que nada se passa.
Ou resigna-se, deixando-se levar pela tristeza de saber que, mais dia, menos dia, não os terá mais perto de si, desistindo da luta.
Ou encara a situação de frente, e luta com as armas que tem, por aqueles que, também eles, estão a lutar. A Fátima pertence, sem dúvida, a este último grupo.
É sempre uma vida levada com o coração nas mãos, apertadinho, ora a querer sair pela boca, ora a encolher-se dentro do peito. É uma montanha russa de emoções, consoante há uma leve melhoria, ou um dia mais complicado.
É um permanente desassossego e inquietação, pelo que poderá ou não acontecer na sua ausência. Se for preciso, e não estiver lá.
Mas há algo que nunca falha: o amor, o carinho, a atenção, os mimos, a dedicação, a disponibilidade, a presença constante. E isso pode fazer muito!
Como é que alguém se prepara para a sua partida desta vida?
Acho que não existe preparação possível.
Estejamos a contar ou não, sabendo de antemão ou não, resignando-nos ou não, lutando ou não, a dor que sentimos, quando acontece, é sempre a mesma. Tal como a revolta, a frustração, a tristeza, as saudades.
Não podendo mudar nada disso, resta fazer aquilo que queremos e podemos, por aqueles que ainda cá estão connosco, enquanto nos for permitido!
O Clube de Gatos envia aqui muita energia positiva, para recarregar as baterias à Mia, para que continue a sua luta, e todo o apoio à Fátima, que precisa dele para continuar a viver esta fase sem perder a força que a caracteriza.
Imagem surrupiada à Fátima