A biónica é a técnica de aplicação de conhecimentos de biologia na solução de problemas de engenharia.
Hoje em dia, a biónica é utilizada, na medicina, na vertente de próteses a transplantes.
Em Portugal, podemos encontrar no Hospital Veterinário de São Bento, em Lisboa, o veterinário biónico Henrique Armés,que já esteve presente na rubrica "Histórias de Quatro Patas", da Sic, para falar sobre o trabalho que desenvolve nesta área.
Deixo aqui o relato de uma das primeiras intervenções feitas em Portugal, recorrendo à biónica:
"Há cerca de seis anos, uma cadela de porte pequeno com cerca de 11 anos deu entrada no Hospital Veterinário de São Bento para, o que se julgava ser, uma consulta de rotina. De nome Sultana, a cadelinha sénior com um ar simpático apresentava, contudo, sintomas na pata dianteira esquerda, que , de imediato, fizeram ponderar a existência de alguma patologia.
Após uma primeira suspeita, veio, através de exames, a confirmação de que a Sultana era portadora de um carcinoma e o tratamento passaria pela amputação da pata. Desde o primeiro momento, a preocupação do hospital centrou-se no tentar encontrar uma solução para o tratamento da Sultana, que lhe permitisse a melhor qualidade de vida.
Tendo conhecimento de um tipo de cirurgia inovadora, que consistia num implante de uma prótese endo-exo, pensámos: E porque não, permitir que a Sultana tenha acesso a um tratamento pioneiro, e nesse contexto, introduzir em Portugal esta técnica inovadora?
De facto, a endo-exo prótese consiste num dispositivo de metal que é implantado no osso e é composto por diversos módulos que, grosso modo, se dividem em uma parte interior (endo) e uma outra exterior (exo) aplicados na pata do animal.
Através de um planeamento concertado, com uma equipa multidisciplinar, projetámos então a implantação de uma endo-exo-prótese no membro amputado de Sultana. A hipótese foi bem acolhida pela dona da cadela e criámos os meios necessários para a cirurgia.
Sabemos ter sido esta, de facto, a primeira cirurgia do género em Portugal e também a primeira prótese com este tipo de técnica na Península Ibérica.
Dada a sua complexidade e após um exigido período de repouso para que o endo-implante se integrasse no osso da Sultana, esta foi submetida a uma reabilitação com esquemas de fisioterapia baseados em hidroterapia. A Sultana foi-se então adaptando gradualmente ao seu novo membro artificial e, após 5 meses, estava totalmente adaptada.
Depois de Sultana, e ao longo dos últimos 6 anos, seguiram-se mais 7 animais: 6 cães e um gato. Todos casos clínicos desafiantes.
O último dos quais foi realizado entre abril e maio deste ano e que trouxe, igualmente, mais desafios: tratava-se da aplicação de uma endo-exo prótese numa cadela com pouco mais de 3 quilos, feito que, segundo sabemos, será uma das primeiras aplicações feitas no mundo num animal de tão baixo peso."
À semelhança do que acontece na medicina humana, as próteses em animais têm tido uma rápida evolução.
Mas, embora a maioria das intervenções seja bem sucedida, existem casos em que esta opção não é viável, e tem mesmo que ser descartada, pelo bem dos animais.
Por outro lado, são intervenções muito dispendiosas, o que não permite a quaquer dono recorrer a elas.
Há uma série que passou no canal Odisseia (não sei se ainda dá) - O Veterinário Biónico - que mostra o dia-a-dia de um veterinário neuro-cirurgião ortopédico conceituado, Noel Fitzpatrick, e as alegrias e frustrações que sente, consoante os animais que lhe chegam às mãos.