Os gatos pressentem, e os donos sentem
Há uns dias fomos ao veterinário para a consulta pré-cirúrgica da Becas e da Amora.
A Amora ainda não pode ser esterilizada. A Becas, sim. Ficou marcada para hoje.
Nos últimos dias, a Becas mudou o comportamento. Anda mais meiguinha, mais carente, deita-se sempre no mesmo sítio que a Amora, e perto dos donos.
Ontem, não estava nos dias dela e pregou umas dentadas ao dono, o que é estranho porque é dele que ela mais gosta.
Eu disse-lhe: deixa-a estar, está em dia não. Ela sabe que se vai passar alguma coisa com ela. Disse isto na brincadeira mas acredito que ela tenha pressentido mesmo que algo se ia passar.
Hoje, coitadinhas, assim que se levantaram foram direitinhas à cozinha para comer. Mas a Becas tem que estar em jejum. E como não podia estar a prender uma delas numa divisão, a Amora foi obrigada a ser solidária com a amiga. Tentei distraí-las com brinquedos, levá-las à janela, e à rua no meu colo.
Mas custou muito estar a ver a tristeza delas. É que depois, se pegava numa, a outra ficava com aqueles olhinhos tristes a querer mimos. Se pegava na outra, ficava a primeira aborrecida.
Lembrei-me do dia em que levámos a Tica para a esterilização. E sinto-me bem melhor hoje ao levar a Becas. Com a Tica, entregámo-la na rua (porque a clínica ainda não estava aberta) ao médico que a pôs na sua carrinha, e a levou para outra clínica onde ia ser feita a cirurgia. E não é que tenha razão de queixa, porque até correu tudo bem.
Mas é bem mais reconfortante deixar a Becas no hospital, entregue a médicos que já conhecemos e que não tratam os animais como meros animais, e com os meios que sabemos que têm.
Ainda assim, é uma cirurgia, e custa sempre ver as nossas meninas nestas situações.
Estou ansiosa para que o dia chegue ao fim, e possamos ir buscá-la. É que se eles pressentem as coisas, e as sentem fisicamente, os donos sentem-nas no coração, que só descansa quando temos os nossos bichanos sãos e salvos em casa!